sexta-feira, 6 de março de 2015

Jesus do Leste de Lugar Nenhum

O  Green Day causa alvoroço no mainstream desde os anos 90, mas o seu American Idiot foi um divisor de águas por 2 motivos: O engajamento político implícito da banda e o visual emo de Billie Joe Armstrong. Quando veio a sequência 21st Century Breakdown, em 2009, já ficou escrachado o teor crítico do trio californiado à quase todas as mazelas sociais, e a faixa East Jesus Nowhere aponta de modo certeiro para a religião.

A letra relaciona os atos da igreja, provavelmente a protestante que abunda nos EUA, aos feitos do exército norte-americano desde 11 de setembro ou até antes, quando justificam mortes em nome da paz, do equilíbrio e da democracia (Depositem sua fé em um milagre / E isso não tem a ver com religião/ Juntem-se ao coro, estaremos cantando /Na igreja da doce ilusão), além de citar os problemas raciais enfrentados na América até a investida de Martin Luther King (Levantem-se! Todos os garotos brancos / Sentem-se! Todas as garotas negras / Vocês são os soldados do novo mundo).

Tudo isso abusando do autoritarismo, de forma que o povo, descrito como ‘cães sodomizados’, não devem criticar ou mesmo se posicionar contra seu líder-pastor-presidente-general em tom de ameaça (Não me testem / Não me contestem / Não me protestem), aos olhos de um aparelho repressor e vigilante (Eu quero saber a quem é permitido reproduzir/ (…) E os tiras de uma nova religião)

Talvez aos ouvidos dos ateus revoltatinhos isso pode soar como uma ode de Beethoven ou de Vinícius de Moraes, remetendo aos abusos medievais da instituição. Mas a bem da verdade a música, acompanhada por batidas que lembram as touradas espanholas, serve para o próprio estaduniense rir da própria desgraça – o videoclipe tem sua parcela bem-humorada – e talvez refletir sobre um futuro justo e digno, sem intervencionismo ou pisões em outras religiões. Em tempos de Estado Islâmico e execução de traficantes na Indonésia, misturar política e religião pode não ser a solução, mas seria o maior dos problemas geopolíticos?


Nenhum comentário: